segunda-feira

Alfabetização de crianças com seis anos


Ensinar é uma tarefa complexa que requer do profissional da educação conhecimento, autonomia, autoria, criatividade e prazer. Hoje nos posicionamos aos erros e acertos que ocorreram com a adentrada do construtivismo nas escolas, a fala mais comum, proferida inclusive por mim, é de que, não houve formação para os professores o que acabou por confundir construtivismo como método de alfabetização, ou em alguns casos como espontaneísmo, onde tudo podia pelo aluno, mas nada podia pelo professor. Este deparou-se com a situação do qual deveria esquecer sua prática pedagógica, pois a mesma era equivocada, e iniciar uma nova trajetória no qual até o uso da caneta vermelha era considerada errada. Ditado, silabação... nem pensar! Situação que marcou toda uma geração. Faltou estudar a proposta, discutir o melhor caminho, faltou bom senso, pois no próprio Programa Curricular Nacional nos deparamos com a seguinte colocação.

Os PCNs, pela sua própria natureza, configuram uma proposta aberta e flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se sobreporia à competência político-executiva dos estados e municípios, à diversidade política e cultural das múltiplas regiões do país ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas.

O fato é que agora nos deparamos mais uma vez com esta situação e a história se repete, o ensino fundamental foi ampliado em um ano e percebo que muitos professores e supervisores escolares estão “perdidos” e a fala mais comum é “ Afinal, é pra alfabetizar”? Em uma sociedade letrada a alfabetização é e precisa ser um continuum, uma criança de seis anos quer e pode ser alfabetizada, o problema é como isto ocorre nas salas de aula. Os dados do Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF 2009) mostram que nossas crianças passam por uma alfabetização que não alfabetiza, quando aponta que apenas 15% dos alunos que concluem o Ensino Fundamental podem ser considerados alfabetizados plenos, este dado não se refere apenas a escolas públicas, é um dado nacional que envolve também as instituições privadas.
Inicialmente todo professor precisa conhecer a proposta do MEC para esta ampliação, em 2004 o Ministério da Educação protocolou um documento intitulado “Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações Gerais” no qual apresenta o objetivo desta ampliação:

[...] não se trata de transferir para as crianças de seis anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira série, mas de conceber uma nova estrutura de organização dos conteúdos em um Ensino Fundamental de nove anos, considerando o perfil de seus alunos. O objetivo de um maior número de anos de ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. (p.17)

O mesmo documento complementa

Tudo isso deve acontecer num contexto em que cuidados e educação se realizem de modo prazeroso, lúdico. Nesta perspectiva, as brincadeiras espontâneas, o uso de materiais, os jogos, as danças e os cantos, as comidas e as roupas, as múltiplas formas de comunicação, de expressão, de criação e de movimento, o exercício de tarefas rotineiras do cotidiano e as experiências dirigidas que exigem que o conhecimento dos limites e alcances das ações das crianças e dos adultos estejam contemplados. […] as estratégias pedagógicas devem evitar a monotonia, o exagero de atividades “acadêmicas” ou de disciplinamento estéril. (p.16)


Sugere que se apresente para estes sujeitos uma escola que seja um espaço de prazer e de alegria (p.11). Este espaço pode e deve ser apresentado a estes sujeitos, mas não da maneira que ocorre em muitas salas de aulas, pois ainda é visível uma alfabetização que não alfabetiza, que impõe, memoriza, pura técnica. Este modelo de alfabetização a muito se mostra ineficaz e se antes os alunos reprovavam e abandonavam a escola, hoje todos permanecem em suas carteiras. O tempo é outro, a criança é outra, mas a prática permanece a mesma e a ciência prova que todos aprendem quando são estimulados, desafiados. Essas crianças querem ser alfabetizadas, mas por uma alfabetização que alfabetize.
Em outro documento disponibilizado pelo MEC, com o título “Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade”, no qual há a participação de teóricos renomados, e que todo professor deveria ter conhecimento está a seguinte colocação:

 
[...], é preciso, ainda, que haja, de forma criteriosa, com base em estudos, debates e entendimentos, a reorganização das propostas pedagógicas das secretarias de educação e dos projetos pedagógicos das escolas, de modo que assegurem o pleno desenvolvimento das crianças em seus aspectos físico, psicológico, intelectual, social e cognitivo, tendo em vista alcançar os objetivos do ensino fundamental, sem restringir a aprendizagem das crianças de seis anos de idade à exclusividade da alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental de nove anos, mas sim ampliando as possibilidades de aprendizagem. (p.11)

Professores, leiam, estudem... conhecimento é fundamental para que os mesmos erros não sejam cometidos. Alfabetizar não é memorizar, não é impor, não é copiar ou preencher atividades em folhas fotocopiadas. Alfabetizar é encantar, construir, é adentrar em novos mundos. Somente o conhecimento nos dá a chave para autonomia e a autoria. “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar.” Bom senso é fundamental para que daqui a alguns anos nosso discurso não tenha a seguinte fala.... No final da década de 2.000 o ensino fundamental foi ampliado para 9 anos e ocorreram alguns erros, entre eles, a falta de formação para os professores e a transferência do currículo da antiga primeira série para o primeiro ano, no qual os alunos passavam suas horas na escola copiando atividades inócuas em vez de experienciar e vibrar com a escrita e a leitura. Isto marcou uma geração inteira.


Ensino Fundamental de Nove Anos, 2004. Disponível:


Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Disponível: http://www.oei.es/quipu/brasil/ensino_fundamental_9anos.pdf


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