domingo

Homenagem

Dedico este poema aos meus alunos que são o incentivo da busca permanente de uma prática pedagógica que os contemple ao aprender significativo....
 Amo vocês meus Príncipes e Princesas!!!!

Para Sara, Raquel, Lia e para todas as crianças
Carlos Drummond de Andrade

Eu queria uma escola que cultivasse
a curiosidade de aprender
que é em vocês natural.

Eu queria uma escola que educasse
seu corpo e seus movimentos:
que possibilitasse seu crescimento
físico e sadio. Normal

Eu queria uma escola que lhes
ensinasse tudo sobre a natureza,
o ar, a matéria, as plantas, os animais,
seu próprio corpo. Deus.

Mas que ensinasse primeiro pela
observação, pela descoberta,
pela experimentação.

E que dessas coisas lhes ensinasse
não só o conhecer, como também
a aceitar, a amar e preservar.

Eu queria uma escola que lhes
ensinasse tudo sobre a nossa história
e a nossa terra de uma maneira
viva e atraente.

Eu queria uma escola que lhes
ensinasse a usarem bem a nossa língua,
a pensarem e a se expressarem
com clareza.

Eu queria uma escola que lhes
ensinassem a pensar, a raciocinar,
a procurar soluções.

Eu queria uma escola que desde cedo
usasse materiais concretos para que vocês pudessem ir formando corretamente os conceitos matemáticos, os conceitos de números, as operações... pedrinhas... só porcariinhas!... fazendo vocês aprenderem brincando...

Oh! meu Deus!
Deus que livre vocês de uma escola
em que tenham que copiar pontos.

Deus que livre vocês de decorar
sem entender, nomes, datas, fatos...

Deus que livre vocês de aceitarem
conhecimentos "prontos",
mediocremente embalados
nos livros didáticos descartáveis.

Deus que livre vocês de ficarem
passivos, ouvindo e repetindo,
repetindo, repetindo...

Eu também queria uma escola
que ensinasse a conviver, a
cooperar,
a respeitar, a esperar, a saber viver
em comunidade, em união.

Que vocês aprendessem
a transformar e criar.

Que lhes desse múltiplos meios de
vocês expressarem cada
sentimento,
cada drama, cada emoção.

Ah! E antes que eu me esqueça:

Deus que livre vocês
de um professor incompetente.

terça-feira

Possibilidade de aprendizagem para criança com deficiência: O Computador em Sala de Aula

 
Momento de transição, quebra de paradigma, mudança, …. são termos comuns quando a discussão é inclusão, porém o que norteará este texto baseia-se nos escritos de Larrosa (2001, p. 285) quando destaca
A criança não é nem antiga nem moderna, não está nem antes nem depois, mas agora, atual, presente. Seu tempo não é linear, nem evolutivo, nem genético, nem dialético, nem sequer narrativo. A criança é um presente inatual, intempestivo, uma figura do acontecimento.

E como figura do acontecimento quer participar, ser envolvida, brincar, gritar, ser criança... E criança é criança em qualquer lugar, independentemente da classe social, cultural, com ou sem deficiência. É uma figura do acontecimento e quando adentra a escola, seu único desejo é aprender.
É este desejo de saber e a vontade de conhecer que as mobilizam e as fazem assumirem as dificuldades que as introduzirão nos complexos processos da aprendizagem. Todavia a situação da não aprendizagem nos bancos escolares, não ocorre somente para os alunos com deficiência. Segundo Bueno (2008, p.47) muitos profissionais da educação se espantam frente aos resultados escolares extremamente baixos alcançados pelos alunos com deficiência, porém não é situação muito diferente de seus pares não-deficientes.
Sabe-se que

Há uma profissionalidade que vem de longe. Há uma cultura pública profissional e popular que as políticas públicas, as políticas de formação e de treinamento, ou as políticas de currículos não conseguem modificar com facilidade. A capacidade de transformar o cotidiano da escola através das políticas públicas é muito mais limitado do que nós pensamos. (ARROYO, p. 279)

A tendência a rotina e à repetição dos mesmos passos não contemplam a aprendizagem à todas as crianças, navegar por mares nunca navegados e abandonar a segurança do caminho conhecido requer do profissional da educação conhecimento, autonomia, autoria, prazer e criatividade em um processo complexo que envolve o aprofundamento de saberes num tecer/destecer/re-tecer de outras possibilidades de ensinagem.
O relato de experiência que este texto apresenta discute estas possibilidades de ensinagem a esta criança, figura do acontecimento, que adentra na escola, mas por causa da sua deficiência se percebe impossibilitada de acompanhar seus colegas de sala na resolução das atividades propostas pela professora. Esta por sua vez, entra em conflito, mas sente-se confiante em abandonar o caminho já conhecido e navegar por mares nunca dantes navegados ao trazer para sua sala de aula um computador. Parece fácil, mas segundo Arroyo (2011, p. 277) a escola é uma instituição pesada, lenta, muito complexa em sua dinâmica, é uma instituição que não muda tão fácil.
A discussão contemplará o computador como tecnologia assistiva possível e viável para ser utilizado em sala de aula por alunos com deficiência, cientes de que, cada criança é um sujeito, portanto cada caso é único, porém o compartilhar desta experiência exitosa foi base para outros professores romperem com a cultura do caderno e oportunizarem a outras crianças com deficiências se assumirem como figura do acontecimento.

Relato da Experiência: momentos de inquietações e enriquecimentos.

A noite de dez de fevereiro de dois mil e oito não foi comum para muitas crianças, principalmente para os alunos matriculados na primeira série (Ensino Fundamental de oito anos), o dia seguinte seria muito especial, o primeiro dia letivo. Para muitos pequenos, foi o cansaço que os fez dormir naquela noite, ansiosos pelo amanhecer.
Os cadernos encapados, o penal colorido com a imagem do personagem admirado, lápis coloridos e borrachas. Tudo novo, com o nome gravado, organizados e guardados dentro da nova mochila. O dia finalmente amanhece e a ansiedade aumenta, o uniforme lavado e passado aguarda ser vestido para transformar a criança em aluno.
Na mochila o material novo e na alma inquietações, insegurança, nervosismo e principalmente muita alegria. Agora são alunos de uma grande escola (principalmente para os que frequentaram os CEIs), aprenderão a ler e escrever, realizarão provas e receberão boletim com notas de “numeruzinhos”, levarão deveres para casa, formarão um novo grupo, serão parte de uma comunidade escolar.
Inquietações também permeiam o ambiente doméstico, será que o filho logo aprenderá a ler e escrever? Quem ou qual será professor? E o profissional da educação deve estar atento a todos esses nuances que o inicio do ano letivo traz, principalmente quando no primeiro dia de aula é abordado por uma mãe com a seguinte frase: “Professora, meu filho é diferente e segundo o médico sua aprendizagem será uma incógnita.” A palavra “diferente” no sentido linguístico significa dessemelhante, e ao observar os alunos na sala, já sentados em suas carteiras, tal diferença não foi localizada. Após questionar a mãe sobre possíveis dificuldades de comunicação, locomoção e necessidades fisiológicas, nos quais o aluno em questão não possui a professora solicitou duas semanas para conhecer o aluno, analisar e avaliar quais possibilidades de trabalho.
Durante esta etapa de conhecimento, observou-se que o aluno conhecia as letras do alfabeto e escrevia seu nome, todavia sua dificuldade motora dificultava muito a resolução das atividades propostas em folhas e também na cópia do quadro.

Sondagem para avaliar o nível conceptual linguístico do aluno

Nesta sala, a lousa é usada diariamente pelos alunos em escritas individuais e coletivas o que favoreceu identificar as dificuldades do aluno. Entre muitas observações, certa feita, a professora pediu para cada aluno escrever uma palavra, do contexto trabalhado, no quadro. E a palavra VACA designada para este aluno que foi uns dos primeiros a ser convidado a escrevê-la. A letra U era grafada e apagada constantemente, todos já haviam escrito suas palavras, mas o aluno mostrava dificuldades em escrever a sua. A professora então indagou:

Qual palavra você está escrevendo?
VACA.
Com que letra inicia esta palavra?
Com V.
Está bem! Eu já percebi que esta letra (a grafada no quadro) é um V.
Não, professora. Isso é um U e vaca começa com V.

Inquietações também invadem o profissional da educação, afinal não há uma receita pronta para ensinar e cada ser humano aprende de maneira diferente. Criar condições para que as diferenças sejam respeitadas de maneira que todos aprendam, requer comprometimento e conhecimento. Quebrar os modelos mentais estabelecidos por uma educação tradicional onde todos deveriam aprender da mesma maneira, não é tarefa fácil!
Marcada a reunião, a mãe informou alguns detalhes sobre as “diferenças” do seu filho. Este é acometido da Síndrome de Klippel-Trenaunay-Weber:

A Síndrome de Klippel-Trenaunay-Weber foi inicialmente descrita em 1900, consistindo de hipertrofia óssea e de tecidos moles, hemangiomas capilares cutâneos e dilatações venosas, aumento do membro afetado e das extremidades (macrocefalia e acromegalia). Sua incidência é de 1/ 27500 recém-nascidos com prevalência equivalente em ambos os sexos. A etiologia é incerta. Sugere-se, porém, ser resultado de anormalidade mesodérmica que ocorre durante o desenvolvimento fetal levando à manutenção de comunicações artério-venosas microscópicas nos tecidos. As manifestações clínicas dependem do segmento corporal afetado, geralmente um dos membros corporais, unilateralmente. (Kotze et. al., 2002, p.109)

Ao nascer possuía os dedos unidos, que foram separados por ato cirúrgico. Segundo laudo médico, o lado esquerdo do cérebro é bem maior do que o direito e há comprometimento cognitivo, por isso era uma incógnita seu processo de aprendizagem. Os laudos médicos e a narração da mãe poderia ser uma justificativa aceitável para o seu insucesso na escola. Todavia a principal função da escola é propiciar o aprender, e as primeiras inquietações deram lugar a novas, e entre elas: como?
Aparentemente o aluno tinha o mesmo desempenho dos demais, mas com grande dificuldade motora. Como sanar isso para não ocorrer disparidade no seu processo de aprendizagem sendo que ele não conseguia copiar e resolver as atividades propostas? Então surgiu uma alternativa: colocar um computador em sala para o aluno digitar em vez de fazer a cópia de punho.
Apresentada a proposta para a mãe e a equipe administrativa da escola, outras inquietações apareceram. Conseguir o computador não foi difícil, a primeira pessoa para quem foi relatada a situação, fez a doação. Todavia todos os alunos da sala possuíam sete anos, aceitariam tranquilamente o fato de um colega ter um computador em sala? Isso geraria conflito entre os membros do grupo? E os pais? Como se comportariam diante de tal situação? Outro grande problema, e se o aluno não se adaptasse ao uso do computador? Como dar-lhe a oportunidade de ter um computador, sonho de consumo de muitas crianças, e depois retirá-lo? Enfim, depois que o computador foi levado para a instituição de ensino, ficou três dias guardado no laboratório de informática, a espera que os modelos mentais incorporados através de uma educação tradicional fossem rompidos e reequilibrados.
A criança, mesmo com tantos estudos, ainda é uma incógnita para os adultos, tudo e todos têm a possibilidade de mudar continuamente e a criança de uma década atrás não é a criança que entra na escola atualmente, muitas vezes o adulto a creditar ser um ser inapto a algumas ações ou tarefas, e é surpreendido. Foi o que aconteceu nesta situação, após a instalação do computador, o aluno passou a realizar todas as atividades propostas pela professora. Terminou o ano de 2008 no nível conceptual linguístico alfabético e lendo palavras. Atualmente (2011) foi liberado do atendimento educacional especializado e frequenta no contra-turno aulas de reforço escolar. A sondagem abaixo foi realizada com a supervisora escolar da instituição na época, um comparativo com a primeira sondagem apresentada acima.


Escola Municipal XXXXXXXXXXXXXXXX
Professora: XXXXXXXXXXXXXXXX
Joinville, O6 de junho de 2008
Aluno: XXXXXXXXXX 1ª G

SONDAGEM

PAO                                             ESQUILO

ARFORE                                      BOLACHA

AQUARO (AQUÁRIO)               PAPAGAIO

LEÃO                                           ELEFANTE



Referência Bibliográfica:

ARROYO, M. Educação em tempos de exclusão In: GENTILI, P.; FRIGOTO, G. (orgs) A Cidadania Negada: políticas de exclusão na educação e no trabalho. 5 ed.. São Paulo: Cortez, 2011.

BUENO, J. G. S. As Políticas de Inclusão Escolar: uma prerrogativa da educação especial? In: BUENO, J. G. S.; LUNARDI MENDES, G. M.; SANTOS, R. A. Deficiência e Escolarização: novas perspectivas de análise. Araraquara, SP: Junqueira&Marin; Brasília, DF: CAPES, 2008.

KOTZE P. G.; SOARES A. V.; LIMA, M. C.; BALDIN-JUNIOR, A.; SARTOR M. C.; BONARDI, R. A. Síndrome de Klippel-Trenaunay: Uma causa rara de hemorragia digestiva baixa. Rev bras Coloproct, 2002; 22 (2), p.109 -112

LARROSA, J.; SKLIAR, C.(orgs) Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.


 

Aprendizagem Significativa

Para que o aluno aprenda não basta apresentar-lhe o conteúdo, segundo Zabala (1998, p.37) “ […] é necessário que diante destes possam atualizar seus esquemas de conhecimento, compará-los com o que é novo, identificar semelhanças e diferenças e integrá-las em seus esquemas, comprovar que o resultado tem certa coerência, etc.” Quando isso acontece o aluno de depara com uma aprendizagem significativa. Enquanto que a aprendizagem mecânica é caracterizada pelo escasso número de relações que podem ser estabelecidas com os esquemas de conhecimento presentes na estrutura cognitiva e, portanto, facilmente submetida ao esquecimento.
O vídeo abaixo é um exemplo de uma aprendizagem significativa, desafiadora; e demonstra que a escola não precisa se preocupar se as crianças aprendem ou não, mas com dar chances às crianças para vivenciarem o que precisam aprender; sentirem que o que fazem é significativo e vale a pena ser feito.


Referência Bibliográfica:

ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

segunda-feira

Alfabetização de crianças com seis anos


Ensinar é uma tarefa complexa que requer do profissional da educação conhecimento, autonomia, autoria, criatividade e prazer. Hoje nos posicionamos aos erros e acertos que ocorreram com a adentrada do construtivismo nas escolas, a fala mais comum, proferida inclusive por mim, é de que, não houve formação para os professores o que acabou por confundir construtivismo como método de alfabetização, ou em alguns casos como espontaneísmo, onde tudo podia pelo aluno, mas nada podia pelo professor. Este deparou-se com a situação do qual deveria esquecer sua prática pedagógica, pois a mesma era equivocada, e iniciar uma nova trajetória no qual até o uso da caneta vermelha era considerada errada. Ditado, silabação... nem pensar! Situação que marcou toda uma geração. Faltou estudar a proposta, discutir o melhor caminho, faltou bom senso, pois no próprio Programa Curricular Nacional nos deparamos com a seguinte colocação.

Os PCNs, pela sua própria natureza, configuram uma proposta aberta e flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se sobreporia à competência político-executiva dos estados e municípios, à diversidade política e cultural das múltiplas regiões do país ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas.

O fato é que agora nos deparamos mais uma vez com esta situação e a história se repete, o ensino fundamental foi ampliado em um ano e percebo que muitos professores e supervisores escolares estão “perdidos” e a fala mais comum é “ Afinal, é pra alfabetizar”? Em uma sociedade letrada a alfabetização é e precisa ser um continuum, uma criança de seis anos quer e pode ser alfabetizada, o problema é como isto ocorre nas salas de aula. Os dados do Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF 2009) mostram que nossas crianças passam por uma alfabetização que não alfabetiza, quando aponta que apenas 15% dos alunos que concluem o Ensino Fundamental podem ser considerados alfabetizados plenos, este dado não se refere apenas a escolas públicas, é um dado nacional que envolve também as instituições privadas.
Inicialmente todo professor precisa conhecer a proposta do MEC para esta ampliação, em 2004 o Ministério da Educação protocolou um documento intitulado “Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações Gerais” no qual apresenta o objetivo desta ampliação:

[...] não se trata de transferir para as crianças de seis anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira série, mas de conceber uma nova estrutura de organização dos conteúdos em um Ensino Fundamental de nove anos, considerando o perfil de seus alunos. O objetivo de um maior número de anos de ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. (p.17)

O mesmo documento complementa

Tudo isso deve acontecer num contexto em que cuidados e educação se realizem de modo prazeroso, lúdico. Nesta perspectiva, as brincadeiras espontâneas, o uso de materiais, os jogos, as danças e os cantos, as comidas e as roupas, as múltiplas formas de comunicação, de expressão, de criação e de movimento, o exercício de tarefas rotineiras do cotidiano e as experiências dirigidas que exigem que o conhecimento dos limites e alcances das ações das crianças e dos adultos estejam contemplados. […] as estratégias pedagógicas devem evitar a monotonia, o exagero de atividades “acadêmicas” ou de disciplinamento estéril. (p.16)


Sugere que se apresente para estes sujeitos uma escola que seja um espaço de prazer e de alegria (p.11). Este espaço pode e deve ser apresentado a estes sujeitos, mas não da maneira que ocorre em muitas salas de aulas, pois ainda é visível uma alfabetização que não alfabetiza, que impõe, memoriza, pura técnica. Este modelo de alfabetização a muito se mostra ineficaz e se antes os alunos reprovavam e abandonavam a escola, hoje todos permanecem em suas carteiras. O tempo é outro, a criança é outra, mas a prática permanece a mesma e a ciência prova que todos aprendem quando são estimulados, desafiados. Essas crianças querem ser alfabetizadas, mas por uma alfabetização que alfabetize.
Em outro documento disponibilizado pelo MEC, com o título “Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade”, no qual há a participação de teóricos renomados, e que todo professor deveria ter conhecimento está a seguinte colocação:

 
[...], é preciso, ainda, que haja, de forma criteriosa, com base em estudos, debates e entendimentos, a reorganização das propostas pedagógicas das secretarias de educação e dos projetos pedagógicos das escolas, de modo que assegurem o pleno desenvolvimento das crianças em seus aspectos físico, psicológico, intelectual, social e cognitivo, tendo em vista alcançar os objetivos do ensino fundamental, sem restringir a aprendizagem das crianças de seis anos de idade à exclusividade da alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental de nove anos, mas sim ampliando as possibilidades de aprendizagem. (p.11)

Professores, leiam, estudem... conhecimento é fundamental para que os mesmos erros não sejam cometidos. Alfabetizar não é memorizar, não é impor, não é copiar ou preencher atividades em folhas fotocopiadas. Alfabetizar é encantar, construir, é adentrar em novos mundos. Somente o conhecimento nos dá a chave para autonomia e a autoria. “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar.” Bom senso é fundamental para que daqui a alguns anos nosso discurso não tenha a seguinte fala.... No final da década de 2.000 o ensino fundamental foi ampliado para 9 anos e ocorreram alguns erros, entre eles, a falta de formação para os professores e a transferência do currículo da antiga primeira série para o primeiro ano, no qual os alunos passavam suas horas na escola copiando atividades inócuas em vez de experienciar e vibrar com a escrita e a leitura. Isto marcou uma geração inteira.


Ensino Fundamental de Nove Anos, 2004. Disponível:


Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Disponível: http://www.oei.es/quipu/brasil/ensino_fundamental_9anos.pdf


terça-feira

Os Diversos Métodos de Ensino da Leitura e da Escrita

                   Conforme Magda Soares:
As cartilhas desapareceram do mercado. Não se fala mais em cartilha, fala-se em livro de alfabetização. Mas com o desaparecimento das cartilhas, praticamento desapareceu também o conceito de método. Não é possível ensinar a ler e escrever, ou qualquer coisa em educação, sem um método. Há poucos livros de alfabetização que tenham uma organização metodológica para orientar professores e crianças envolvidos neste processo de aprendizagem. Os professores usam precariamente os livros de que dispõe ou buscam as cartilhas nas prateleiras da biblioteca da escola.

Para complementar esta discussão, a Prof. Drª Otília Lizete Heinig (Furb) falou no I Simpósio Catarinense de Alfabetização, ocorrido em 2010 na cidade de São José (SC) sobre o “vazio metodológico” percebido nas suas pesquisas quando ouve dos professores a seguinte colocação “Estou meio perdido, não sei se este é o caminho”!
Os professores alfabetizadores com experiência em alfabetizar sabem pela prática pedagógica que não basta ofertar as crianças diversidade em gêneros textuais se não houver uma metodologia para que a criança compreenda o funcionamento do código linguístico. O professor alfabetizador precisa explicar para o aluno que o “B” com “A” forma um novo som “BA”, se for acrescentado um “R” no meio, o som passará a ser “BRA”, se for um “L” o novo som som será “BLA”.
Afinal, quantos diferentes sons são formados com 18 (dezoito) consoantes e 5 (cinco) vogais, sem considerar as letras K, W e Y que pouco aparecem em substantivos comuns? Para a criança este processo complexo é amplamente abstrato e o método para que o compreenda é primordial.
Falar em método para alfabetização transformou-se em tabu após a entrada do “construtivismo” nas escolas, confundido com “espontaneísmo” no final da década de 90. Emília Ferreiro critica a limitação que as cartilhas traziam quando ofertavam a criança “Ivo viu a uva”, ou então “O bebê baba”, mas não há escritos seus que criticam métodos, ou os avalia. O que precisa ficar claro para o professor alfabetizador é que a cada tempo o indivíduo está em uma situação histórica diferente, sendo assim, a cada tempo ensinar precisa ser diferente. Portanto utilizar-se de método para alfabetizar não é retornar a cartilha, mas ressignificar as atividades para que seu aluno avance no nível conceptual linguístico ao respeitá-lo como um sujeito do seu tempo .
Os Métodos do ensino da leitura e da escrita podem ser classificados como SINTÉTICOS e ANALÍTICOS:
SINTÉTICOS: São métodos que levam o aluno a combinar os elementos isolados da língua: sons, letras e sílabas. Baseiam-se na concepção de que o ensino da leitura e da escrita deve começar pelos elementos que compõe a palavra. E a medida que esses elementos são apreendido, passam a ser combinados em unidades linguísticas maiores. O aluno aprende as letras, forma as sílabas, palavras e unidades maiores.
O método sintético apresenta-se como:
- Método Alfabético ou Soletrativo: deu origem ao termo alfabetizar. O aluno aprende o nome das letras e suas formas - Maiúscula e Minúscula. A sequência do alfabeto e para combinar as letras entre si para formar sílabas e palavras.

- Fonético: Passou a ser adotado em lugar do alfabético na tentativa de superar a grande dificuldade existente naquele por causa da diferença entre o nome e o som da letra. O aluno aprende inicialmente os sons das letras isoladas e depois reúne em sílabas que formarão as palavras.

- Silábico: A sílaba é a unidade fonética estabelecida para o ponto de partida do ensino da leitura. O aluno aprende inicialmente as sílabas, a combinação entre elas e chega à palavra.

                    ANALÍTICOS: São métodos que levam o aluno a analisar o todo (palavra) para chegar às partes que a compõem. Frequentemente estes processos são conhecidos como GLOBAIS.

O método analítico apresenta-se como:

Palavração: Comenius é apontado como o introdutor do método analítico palavração, quando em 1657 publica sua obra “Orbis Pictus”, no qual associa imagem e palavra. Neste método a palavra é apresentada ao aluno, muitas vezes acompanhada da imagem, porém a atenção é dirigida aos detalhes da palavra como sílabas, letras e sons. E estes, depois reunidos, auxiliam o aluno a enfrentar palavras novas com autonomia de leitura. Para o método ser palavração a palavra deve ser composta de decomposta para que o aluno perceba suas nuances, ofertar lista para o aluno não é o método analítico palavração.

Sentenciação: O aluno parte de uma frase que a turma está discutindo, visualiza e memoriza as palavras que formam esta sentença, depois analisa as sílabas que formam cada palavra para formar novas palavras.

Contos e Historietas: É uma ampliação do método de sentenciação. O aluno parte de pequenas histórias, letras de músicas... para chegar nas palavras, sílabas e com estas sílabas formar novas palavras.

                   O professor alfabetizador precisa conhecer os métodos de alfabetização e estudar sempre para não virar refém de "enlatados pedagógicos".