Apresentação


Alfabetizar: Solução ou Problema?

        Alfabetizar no Brasil foi por muito tempo uma ação escolar secundária, centrada no professor, o aluno possuía ou ainda possui, a função de repetir onde “[...] é barrada em sua criatividade, pois é obrigada a trilhar caminhos pré-concebidos. Se a criança não der a resposta esperada é sempre ela o problema, nunca a metodologia” (FEIL, 1986, p.29), todavia discussões tem apontados novas expectativas no processo de alfabetização de nossas crianças, mas ainda se observa poucas mudanças significativas nas salas de aulas.

É crucial que os professores tenham acesso ao conhecimento produzido nos vários campos, mas é preciso dimensionar esse conhecimento na provisoriedade que o caracteriza, superando-se modismos apressados, classificações leviana da prática escolar e propostas rápidas e superficiais. Do contrário, mais uma vez gato será comprado por lebre e, novamente, a criança e o professor serão responsabilizados pelo fracasso. (SOUZA & KRAMER, 1991, p.70)

E o professor alfabetizador encontra-se em uma situação difícil, de um lado surgem práticas inovadoras, de outro está apegado ao tradicionalismo, portanto, fica perdido em adotar em sua prática pedagógica “modismos”, os quais já não lhe convencem em seus resultados, pois sabe que como diz: “[...] as crianças são facilmente alfabetizáveis; foram os adultos que dificultaram o processo de alfabetização delas” (FERREIRO, 1993, p.17) e cabe a ele criar situações que facilite este processo de aquisição da escrita e da leitura, mas

[...] o erro da educação, nas nossas sociedades modernas, consistia em [...] impor [...] às crianças o modo de pensar e de agir que viriam mais tarde, os dos adultos [...] ultrapassava-se suas possibilidades mentais [...] quer a suprimir a sua espontaneidade [...] quer a deixar o seu poder de interesse desocupado  (WALLON, 1975, p.15).

E nos cursos de formação ou de capacitação direcionados aos professores no nosso país,

[...] falam de como se deve fazer, mas muito pouco do que realmente se faz [...] Falamos de correntes, de modelos, de enfoques metodológicos, mas temos que estudar muito mais e melhor as práticas reais [...] há uma diferença enorme entre o que se diz que se faz e o que realmente se faz. (SANCHES MIGUEL, 2004, p.29)

            Constituir um processo de alfabetização que contemple todas as competências ao quais as crianças possuem direito somente tornar-se-á possível quando os responsáveis por esta importante tarefa, os professores, munidos de conhecimento teórico e não somente de informações encontrem a alquimia entre a motivação e os interesses de uma criança de sete anos sem subjugá-la no que possui de melhor, sua imaginação e criatividade. Para isso o professor tem que acreditar no seu bom senso, nas suas idéias.

Não se deve ter por quimérica a idéias e nem desacreditá-la como um belo sonho se surgirem obstáculos para a sua realização. Uma idéia é apenas o conceito de uma perfeição que ainda não foi encontrada na experiência. [...] Antes de mais nada, deve ser nossa idéia correta e, assim sendo, apesar de todos os obstáculos que surjam no caminho da realização, ainda assim não será inteiramente impossível. [...] E a idéias de uma educação que desenvolva nos seres humanos todas as disposições naturais é, sem dúvida verdadeira. (KANT, 1803 ,p.460)

Nesse sentido, apresentamos a história “O Mundo das Letras”, como uma prática pedagógica possível e viável em seus resultados que mobiliza recursos cognitivos como os de ouvir, falar, dialogar, ler, escrever, comparar, descrever e com a auto-estima. O aluno interage e estabelece relações sociais com a história e com os outros atores, sente-se parte da sociedade, da história e apropria-se da leitura e da escrita ao brincar no “Mundo das Letras”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


FEIL, I. T. S. Alfabetização: um desafio novo para um novo tempo. 6 ed. Ijuí, RS: Vozes, 1986.

FERREIRO, E. Com Todas as Letras. 2ed.São Paulo: Cortez, 1993.

KANT, I. Über Pädagogik. Herausgegeben von F. T. Rink. Königsberg: F.
Nicolovius:1803. Immanuel Kant Werkausgabe XII.

SANCHES MIGUEL, E.. Leitura e Escrita em Questão. Revista Pátio. Nº 29, Porto Alegre, RS: Artes Médicas, Fevereiro/Abril, 2004.

SOUZA, J. e KRAMER, S. O Debate Piaget/Vygotsky e as Políticas Educacionais. In: Cadernos de Pesquisa, 77: 69-80, maio de 1991.

WALLON, H. Psicologia e Educação da Infância: tradução Ana Rabaça. Lisboa: Estampa, 1975.